As reflexões do rabino Fred Morgan me levaram a fazer comparações com o cotidiano da escola, com as relações que se desenvolvem no processo educativo, relacionando o tema da esperança, da curiosidade e a experiência de Moisés. Essas reflexões foram partilhadas com a equipe docente da escola e partilho com vocês, pois caminhamos juntos...
A curiosidade que leva Moisés até a sarça ardente
É a curiosidade, que está na raiz de todo esforço educacional, que leva também Moisés à sarça (arbusto). Não é incomum que arbustos peguem fogo espontaneamente em meio a locais de natureza quente e seca, mas Moisés é surpreendido por uma chama que não consome a sarça, o fogo não a queima. Por isso resolveu se aproximar para ver de perto.
Quantas vezes, no processo educativo, é a curiosidade que move o aluno até o aprendizado? Por mais que haja um dever, uma rotina, o aprendizado acontece porque nossos alunos são desafiados, tem a curiosidade despertada para descobrir o que está acontecendo? Por que algo é assim e não de outra forma? Como descobrir algo ou chegar a um resultado? Como é bom descobrir algo que antes não se tinha conhecimento.... Assim como a sarça despertou a curiosidade de Moisés porque nela havia algo de mistério, de encanto, o que pode despertar nossos alunos para aprender? E para aprender a ter esperança?
O chamado de Deus a Moisés
Deus o chama duas vezes, de forma repetida. E o que isso quer dizer? A repetição do nome denota urgência ou pode transparecer acolhimento, carinho. Ambas as interpretações se encaixam muito bem no contexto. Entretanto, e se houver uma pausa entre os dois “Moisés”? Às vezes, neste suposto intervalo, Deus aguarda uma resposta que ainda não veio. Talvez Moisés não tenha dado por si no primeiro chamado: lhe faltava a curiosidade necessária! — Assim, Deus chama novamente a atenção de Moisés com impaciência.
E quantas vezes, nós professores, não precisamos chamar repetidamente nossos alunos, com a urgência para prestar atenção, com o acolhimento de quem quer bem aos alunos e o chama para o aprendizado, para a vida, para a confiança e esperança de que tudo vai dar certo, de que ele alcançará os objetivos que estabelece. Às vezes, assim como Deus, aguardamos uma resposta que não vem. Mas como cultivamos a esperança, não deixamos nunca de chama-los, pois confiamos que tudo acontece no tempo de Deus.
A resposta de Moisés
Moisés, após ser chamado duas vezes, responde: “Aqui estou”, que em hebraico é hineini. Esta resposta evidencia, não só uma presença física, mas uma presença mental, uma atenção despertada para o que é estranho e curioso, mas que pode levar a feitos maiores. E o rabino ainda pontua que a palavra hebraica hine, que compõe a expressão hineini, “aqui estou”, e que quer dizer: Olhe! Contemple! Presencie!, aparece três vezes em diferentes formas gramaticais nesta história. Ou seja, Deus, ao chamar Moisés, quis dizer: Olhe, veja, contemple e ele respondeu de forma a demonstrar que de fato estava presente.
Assim é também conosco: nós, em relação a Deus, que nos chama e queremos dizer de maneira plena “Estou aqui” e com nossos alunos também, quando os chamamos e ansiamos que eles estejam presentes, descobrindo as coisas belas da vida e a maravilha do conhecimento.
A pergunta que Moisés faz: “Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do Egito?” e a escolha, a decisão que ele toma.
Esta história representa um momento crucial na vida de Moisés. É um momento em que Moisés precisa escolher entre continuar pastor em Midiã ou aceitar o chamado de Deus para voltar ao Egito e confrontar o faraó, libertar o seu povo da escravidão.
Diante do desafio, ele se pergunta: Quem sou eu?
A sarça ardente, o chamado de Deus coloca Moisés na busca por sua identidade, pelo sentido de sua vida. Foi preciso este momento em sua vida para que Moisés, um hebreu/egípcio/midianita pudesse entender seu passado e criar um futuro com sentido, consistente com sua paixão por justiça, foi preciso ver uma sarça queimando e considerar algo impressionante, aproximar-se e, assim, encontrar Deus e sua missão.
E creio que o processo educativo é um pouco desse caminho: contribuir para que nossos alunos entendam seu passado, conheçam a si próprios e façam suas escolhas.
E no meio de tudo isso está a esperança, pois acreditar e projetar um futuro é ter esperança. Por fazermos isso com nossos alunos, é que educamos para a esperança.